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Transmutare

- A Lua tá linda, olhá lá. - Ah, ontem também tava.  E refletindo no trem, enquanto as mudanças mostradas pelo constante movimento da janela se faziam de minhas confidentes, percebo que não. Não era aquilo que queria dizer e quero montar uma errata pras minhas atitudes dessa noite. Sei que dizem que o momento em que algo acontece é importante e que o que acontece é um constitutivo que não se reescreve. Mas esse momento de agora também existe e, portanto, pode ser considerado eterno e constitutivo de.             Pega minhas reiterações como atitude do agora.    A Lua tá linda sim, amor, ontem ela me disse que a beleza mostrada pra mim é a mesma que faz morada em cada pormenor do seu corpo. E aquela blusa verde em perfeita harmonia com o cabelo caindo nos olhos meio inchados.  - Você chorou hoje?      E quero te levar pra algum lugar onde o tempo passa, mas a gente passa junto e esse lugar é aqui.  Me fala da vida. Das suas percepções.  Me dá conselho

conto - Despedaços

Parte 1 Um começo Seguro forte o guarda-chuva, sentindo esbranquiçar os nós dos dedos, se eu me machuco, doem menos os cacos de vidro espalhados aqui dentro, aqueles que não consigo encaixar de jeito nenhum e ninguém me disse que pessoas são feito tétris e talvez não sejam. Talvez eu precise mudar meus métodos e as calçadas parecem escorregadias demais. Viro as esquinas quase que inconscientemente e me percebo esperando ver uma chance em cada tijolo meio que mal colocado. Em dias assim, em que o sol aparece sem ser convidado e tinge o céu e tinge a vida aqui em baixo em cores quentes, eu desejo saber andar de bicicleta porque então poderia me sentir avançando e cortando o infinito enquanto ele me corta de volta, me dividindo em novas configurações. O infinito é o vento que me abraça sem me tocar por mais que menos de um segundo.

pela janela do trem

Coloco meus braços ao redor do teu pescoço, apoio meu rosto no teu. Fecho os olhos e me permito soltar, alma, respiração. Imagino os traçados do arco íris que contorna tua pupila. Se eu pudesse, te engoliria. Como não posso, me apaixonei. Entre os versos de uma canção mal escrita perdidos na tua gaveta de meias, entre suas mãos contornando minha cintura enquanto a aurora tinge a janela do trem. Ele continua a andar, impassível. Sem se perguntar quantos infinitos cabem na imensidão que seus lábios contornam, sem se questionar o que "suficiente" significa. Eu me perco e me reencontro um milhão de vezes, antes que você perceba que algo não vai bem. Antes que você se dê conta. Calculo o diâmetro do abismo que nos separa enquanto nos corpos, colados, tentam desmentir as verdades que o silêncio insiste em gritar. Você afunda seu rosto no meu ombro, soluça de levinho e se deixa pender. Eu te seguro e lembro de todas as vezes que a janela do teu quarto assistiu minha boca marcar sua

Me abraça, me beija, me chama de meu amor

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Quando você passa eu sinto teu cheiro, gosto de te ver sorrindo logo em seguida depois que olha pra mim, gosto quando me explica sobre esportes e eu me aproximo de você até você ficar sem graça e olhar para folha novamente. Confesso que nunca gostei de ser chamada de "meu amor", mas com você parece tão real que me sinto feliz. Me sinto feliz quando a gente dorme juntos no sofá, quando a gente olha pro céu atrás da academia da faculdade, gosto de quando me surpreende de manhã com café e deita do meu lado seu eu pedir, gosto que vai atrás de mim, gosto que me abrace e me chame pra dançar quando a casa está vazia. Eu te amo e não quero imaginar nada disso sem você, sabe aquela música que diz que não é acaso? Pois é, é só amor. 

E ela me disse

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Afasto todos os livros e folhas e sei lá mais o quê da mesa. “Deixa eu desvendar você.” Ela sussurra no meu ouvido e logo depois coloca os dentes no meu pescoço. Juro que a boca dela se faz de paraíso e essa noite eu serei Dante. Ajeito suas coxas ao redor do meu tronco e seguro aquelas costas que me tiram o sono, a sina, a paciência de esperar pra ver quem vai dar o próximo passo. Nossa jornada não é linear e, o melhor de tudo, não é cíclica. Cada parágrafo que você escreve no meu corpo representa um universo totalmente novo, talvez enxergar as coisas assim seja um grande complexo de supremacia, mas quem se importa? Amor, vamos desenhar novos mundos enquanto nossas vozes se misturam e esquecemos qual som grutual foi emitido por quem. A teoria do Big Bang vai ser superada em algum momento. Eu queria, queria muito demais demasiadamente, poder ler seus pensamentos e desenhá-los na parede do meu quarto. Afasto a franja dos seus olhos e me pergunto se essa é minha vida mesmo, se esse é
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Sim, isso foi pouco antes de eu aprender a me deleitar na minha própria solidão. Deitei a cabeça no seu ombro e me perguntei “por que tão longe?” enquanto nossos dedos se entrelaçavam e eu encarava as listras rosa e roxas das suas meias ¾. Eu estava perdido e esse clichê gigantesco me guiava pelas prateleiras de livros Cult, pelas coleções da Folha sobre arte em bancas de jornal e pelas bandas cujas músicas embalaram nosso romance pequeno-burguês. Eu te queria porque você era feito um portal pros meus devaneios mais loucos, porque mesmo longe das garrafas de vodka- que a gente evitava nas festas, afinal, éramos tolos demais pra negar de todo aquilo que não nos apetecia- você me fazia viajar dentro do mesmo espaço-tempo de sempre. Seu cabelo castanho “sem graça” parecia aquecer tudo ao redor e quando o vento cortante me fazia tremer, você não me segurava. Porque nós dois sabíamos a importância de cair. Toda vez que eu defendia Adam Smith e você refutava meus conceitos dizendo que qual

post it pra ontem

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mesmo sem querer, mesmo sem planejar ou intencionar listas e metas, eu reflito. Paro e penso. Peso as medidas, as falas, os atos, as posses. O futuro não tem peso, ele simplesmente não existe. Ainda. tento colocar num saco de lixo tudo aquilo que não quero carregar esse ano, mas quando a gente joga algo fora, nunca é realmente 'fora', né? o planeta ainda é nossa casa. okay, nosso condomínio. Já que de casa mesmo, a gente só leva o corpo e cobra o aluguel de alguns abraços. quando eu precisar de abrigo, quando minha alma ficar tão inquieta que um corpo só não vai ser suficiente, me deixa passar a noite em você? algumas coisas que não quero trazer comigo são coloridas, outras têm sorrisos perigosos demais, tem também aquelas que me atrasam até as horas adiantadas e aí eu preciso correr pra não perder o tempo. por que ele sempre foge de nós? às vezes não somos fortes o bastante para retê-lo e olha que ele é pura invenção humana, os dias nunca solicitaram a moradia em um calendário